Robert Burton descreveu amplamente a melancolia ainda em 1621, em seu livro ‘A anatomia da melancolia’. Ele era teólogo em Oxford e reuniu seus conhecimentos da época em medicina, filosofia, literatura e teologia sobre a melancolia. É impossível escapar dessa melancolia, que se aninha tão profundamente na alma: esta é sua mensagem.
Há um longo caminho entre a “melancolia” de Burton e o que atualmente se entende por “depressão”, mas o autor já acenou ao limite, válido até hoje, para se distinguir a “tristeza” normal e recorrente do estado patológico da “depressão”. Como e quando o limite entre as reações normais e os sintomas considerados clinicamente anormais é ultrapassado ainda é uma questão sem resposta.
O abatimento, a melancolia ou as “depressões” modernas são transtornos frequentes e consideradas doenças sérias que atingem a pessoa por inteiro, influenciando tanto as faculdades mentais quanto as físicas. As depressões aparecem em todas as fases da vida, da juventude à velhice, e estatisticamente, afetam mais as mulheres do que os homens.
Sabe-se que as depressões podem ser consequência e causa de patologias físicas, ainda que não se possa estabelecer quais destas surgiu primeiramente. Entretanto, é de conhecimento, que o sistema imunológico das pessoas enlutadas é consideravelmente mais frágil do que o das pessoas saudáveis. O risco de as pessoas depressivas desenvolverem as seguintes doenças é significativamente maior: patologias cardíacas, arteriosclerose, AVC, asma, alergias, úlceras gástricas e duodenais, diabetes melito e diversas doenças infecciosas.
Muitas depressões evoluem sem serem percebidas ou tratadas. Estima-se que mais da metade dos transtornos depressivos não são identificados e, mesmo entre as depressões identificadas, quase a metade não é tratada ou é tratada de forma inadequada. É comum que as depressões sejam consequências de distúrbios recorrentes, ou seja, quem passa uma vez pela doença, mesmo que seja leve, carrega o risco de, quando estiver sob estresse, voltar a ficar deprimido.
Como lidar com a depressão?
1ª Melancolia e depressão são transtornos que devem ser levados a sério e apresentam diferentes graus e duração;
2ª A partir de determinada duração e gravidade das queixas, é necessário procurar por ajuda profissional;
3ª As depressões são tratadas com psicoterapia e medicamentos (antidepressivos);
4ª Durante uma depressão, quase tudo parece difícil, faz parte do transtorno. Apesar desse empecilho, deve-se fazer algo para superar, testar, mudar;
5ª Reconhecer progressos é necessário, tal qual reduzir as cobranças;
6ª Cultivar os contatos, inclusive quando for difícil;
7ª Prestar atenção na alimentação, na movimentação e no sono;
8ª Envolver pessoas de confiança e familiares na situação;
9ª Aceitar pequenas mudanças, passos semelhantes e lentos;
10ª Fardos e crises podem estimular ou estender as depressões. O preparo e o planejamento possibilitam a prevenção.
Reunimos orientações bastante úteis para pacientes, familiares e profissionais da saúde na obra ‘Como lidar com a depressão’, que é de autoria de Martin Hautzinger, diretor do Departamento de Psicologia Clínica e Desenvolvimento no Instituto de Psicologia da Universidade de Tübingen, na Alemanha. O livro apresenta informações sobre queixas, sintomas, evolução, causas e possibilidades de tratamentos. Confira!
Dr. Martin Hautzinger
Psicólogo alemão, professor assistente do Departamento de Psicologia da Universidade de Oregon, Eugene, EUA, de 1981 a 1983, e assistente universitário de Psicologia Clínica e Diferencial na Universidade de Constança (Alemanha, de 1984 a 1986. Livre-docente, foi professor de Psicologia Clínica no Instituto de Psicologia da Universidade de Mainz (Alemanha, de 1990 a 1996, e desde 1996 é professor titular de Psicologia e diretor do Departamento de Psicologia Clínica e do Desenvolvimento no Instituto de Psicologia da Universidade de Tubingen (Alemanha).