Amor Patológico em Tempos de Isolamento Social

É necessário que nós, profissionais de saúde, estejamos preparados para ajudar nossos clientes com Amor Patológico nessa fase de isolamento social e, algumas vezes, de isolamento do parceiro(a).

Para isso, discutiremos sobre as duas angústias principais relativas a esse problema, quando associado a atual fase de isolamento.

Uma das queixas mais frequentes das pessoas com Amor Patológico que procuram a nossa ajuda é que se sentem “presos(as)” em relacionamentos insatisfatórios, ou seja, estão paralisados (de medo) e assim não conseguem melhorar nem terminar.

Este medo elevado (pânico) de ser abandonado e/ou de ficar só tem causa profunda, ou seja, iniciou-se na infância quando, em grande parte dos casos, podem ter gerados outros quadros, principalmente ansiedade e/ou depressão (1).

Acontece que, ao menos no início do relacionamento, os fortes sintomas inerentes a esses transtornos costumam ficar camuflados ou aliviados pelos conflitos relacionais, assim como ocorre com o usuário experimental de cocaína, por exemplo (2).

Assim, podemos levantar a hipótese de que, para as pessoas com Amor Patológico que estiverem COM os parceiros, o isolamento (que gera angústia circunstancial) pode favorecer o aumento da sensação de base (angústia patológica mais profunda) de estarem “presos(as)”.

Por outro lado, para as pessoas que estiverem SEM os parceiros ou sós, além da solidão e carência afetiva esperadas, a impossibilidade de estar com os parceiros poderá favorecer os sintomas depressivos e ansiógenos de base (angústia patológica), uma vez que não terão o aspecto “aliviante” das brigas e sofrimentos constantes inerentes a convivência com os parceiros.

Portanto, é preciso que nos preparemos para lidar tanto com a angústia circunstancial, quanto com a angústia patológica aumentadas nesse momento.

Sobre a angústia circunstancial, o alívio com orientação profissional ou mesmo com leituras e conselhos no sentido de serem acolhidos, ou seja, de se entenderem que faz parte e que podem se sentir assim, pois qualquer outra pessoa estaria na mesma situação. Outra técnica que ajuda a aliviar a angústia circunstancial, é o clareamento ou entendimento que será necessário aguentar a ansiedade apenas por um período, e que a angústia passará imediatamente após o isolamento acabar. Ao menos essa…

Com relação a angústia patológica, como a causa está na infância, é necessário procurar um profissional de sua confiança para tratar, por meio de psicoterapia, de preferência em linha analítica que atinja – e reconfigure – as primeiras relações, para que essas não mais interfiram nos relacionamentos amorosos da vida adulta.

Para ambos os casos, sugerimos também a leitura do livro “Como lidar com o amor patologico” (Ed. Hogrefe) que tem ajudado as pessoas com essa dificuldade a se auto avaliarem, se entenderem, melhorarem o relacionamento com familiares e, ainda, acessarem locais para buscarem ajuda em todo país.

  1. Sophia, EC. Dissertação de Mestrado. FMUSP: 2008.
  2. Sophia, EC. Tese de Doutorado. FMUSP: 2014.

 

Eglacy preto e branco

Eglacy Cristina Sophia

Psicóloga Clínica, Mestrado e Doutorado em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Psicodramatista pela Federação Brasileira de Psicodrama (FEBRAP). Vinte anos de experiência nas áreas de Psicoterapia e Psiquiatria, com ênfase em Dependências e Compulsões, Amor Patológico, Relacionamento Amoroso, Sexualidade Humana e Psicodrama. Supervisora do Setor de Amor e Ciúme Patológicos do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRÓ-AMITI), do Instituto de Psiquiatria, do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP), de 2004 a 2014. Criadora e Coordenadora da Escola de Reabilitação do Amor Patológico (ERA-AP) que, desde 2018, vem desenvolvendo e ministrando Cursos de Capacitação em Reabilitação do Amor Patológico, Workshops, Grupos de Estudo, Supervisão Clínica e de Pesquisa em diversos Estados do país.